Gisbertus Voetius (1589-1676), reformador holandês, cunhou pela primeira vez a expressão: "Ecclesia Reformata et Semper Reforamanda Est" (Igreja Reformada Sempre se Reformando). Uma vez que a Reforma foi um movimento no passado, iniciado em 31 de outubro de 1517 quando Martinho Lutero fixou suas 95 teses na porta da Catedral de Witemberg, a expressão leva o nosso olhar para traz.
Ao rememorar o passado, a história revela o quanto o cristianismo medieval afastou-se da essência do Evangelho de Cristo, substituindo a verdadeira fé por misticismo, barganhas, esforço pessoal em troca do favor divino, etc. O que estava em jogo não eram elementos periféricos da religiosidade, mas o sentido mais profundo da fé e da experiência cristã. A Reforma eclodiu como uma força de resgate do Evangelho da graça, e deste movimento histórico, é oriunda as Igrejas de tradição reformada. A sistematização teológica produzida pelo reformador João Calvino ofereceu a estas Igrejas um profundo embasamento e profundidade nas Escrituras Sagradas.
Não obstante, o lema "Igreja Reformada Sempre se Reformando", conclama a um olhar para o presente e futuro. No compasso cíclico da história, alguns dos mesmos desafios do século XVI, novamente se apresentam travestidos de outras alegorias. Mais uma vez somos testemunhas do afastamento progressivo das expressões cristãs do cerne da verdade do Evangelho. A tendência da natureza humana de negar a graça de Deus e procurar substituí-la por justiça própria tem levado comunidades inteiras a um afastamento da verdade bíblica.
Outro grande perigo é a tendência de muitos herdeiros da Reforma em transformarem os valores resgatados no século XVI apenas num tipo de tradição, ou em outros casos, num tipo de filosofia pra vida. "Igreja Reformada Sempre se Reformando" não pode ser um revisitar contínuo do século XVI, mas sim o revisitar contínuo de Cristo e sua Palavra. É falar, viver e experimentar a graça da Cruz. Trata-se de dar sempre um passo pra frente, porém, nunca deixar de estar ancorado na Rocha. Ser Reformado aos olhos do Mestre é expressar a renovação de vida diária, produzida pela graça do novo nascimento.
Jean Chagas