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sábado, 18 de outubro de 2008

A Paixão Pelo Discipulado


          Durante tantos anos da minha vida ouvi a palavra “discipulado” sem compreender a essência de seu significado e desafio. Parecia mais uma entre estas coisas que se ouve tanto na Igreja, mas que ninguém sabe direito o que é.
          Há 15 anos, ouvi do Pastor David Kornfield (SEPAL), uma definição que parecia apontar um caminho : “O discipulado é um relacionamento vivo e pessoal, onde um discípulo de Jesus mais maduro auxilia outros discípulos a caminhar e amadurecer em sua jornada com Jesus.” Esta definição apontou a essência, porém faltava um modelo objetivo e a motivação correta para vivenciá-lo.
          Nos últimos três anos de meu ministério, cheguei à compreensão mais plena e a um modelo efetivo de prática deste valor central para a sobrevivência da Igreja neste século. No entanto, ao deparar-me com estas descobertas, fui confrontado comigo mesmo: só poderia viver o discipulado se me apaixonasse totalmente por esta filosofia de ministério. 
 As palavras do renomado Rev. Jonh Oak, discipulador de discipuladores, expressam este dilema : “Se havia um tempo que os pastores não podiam tentar com suas próprias mãos o discipulado devido ao mau entendimento e falta de conhecimento, hoje há muitos pastores que têm medo de começar porque eles sabem 'o que é' e 'o que isto os levará'. Eles sabem que fazer o discipulado tem um grande preço a pagar. Há um só modo para o pastor que deseja fazer o discipulado, ele tem de se tornar louco em relação ao treinamento de discípulos.”
          O discipulado, hoje, é a essência do meu pastorado. E meu desejo é impregnar seu valor essencial como elemento absoluto de nossa comunidade. Minha convicção sobre este árduo caminho reside na verdade elementar de que Jesus viveu, morreu, ressuscitou em favor de Seus discípulos e Sua ordem expressa a eles (e a nós) foi : “Ide, fazei discípulos de todas as nações ...” (Mateus 28:19). Se nosso maravilhoso Mestre pagou tão alto preço, só nos sobra o caminho de trilharmos as suas pisaduras.
          Sejamos todos apaixonados pelo discipulado !

Rev. Jean Chagas
revjean@comunidadeluz.com

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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sinópse do Sermão - A Verdadeira Espiritualidade


(Sermão baseado em Marcos 7.1-23, ministrado na Igreja Luz dia 14/09/2008, pelo Rev. Jean Chagas)



Há um terrível surto em processo na igreja evangélica brasileira. Fatos inimagináveis têm se multiplicado na prática de muitas comunidades locais. Parece um tipo de esquizofrenia evangelical. Crentes que se auto-exorcizam, rosas místicas, sal purificador, varinhas e cruzes energizadas entregues aos fiéis, etc. Onde vamos parar com esta paranóia?


Em outra vertente, reerguer-se com vitalidade um conservadorismo "neopuritanístico" como reação a todas estas coisas. Discussões do tempo dos meus avós voltaram aos ambientes dos concílios. Tais como: o bater palmas, o uso de determinados instrumentos no culto, a sacralização dos espaços de celebração, a oportunidade ou não para mulheres ministrarem na igreja, a liberdade da expressão corporal no culto, etc.


Assim, alguns graves perigos à verdadeira espiritualidade tomam força e ameaçam a vitalidade da comunhão do povo de Deus com o seu Senhor. Destacaria quatro grandes perigos:


1. O Tradicionalismo - Alguém já escreveu: "Tradição é a fé viva dos antigos. Tradicionalismo é a fé morta dos vivos." O grande perigo do tradicionalismo é que ele se apresenta de modo sutíl como uma interpretação inequívoca da Escritura e do mundo. Assim, de modo disfarçado, o tradicionalismo se impõe como dogma, anulando a autoridade única da Palavra de Deus. Isto engessa historicamente a Igreja, destruindo a contemporaneidade de sua mensagem.

2. O Legalismo - Tal fenômeno conduz à ideia de uma relação de mérito com Deus, menosprezando a graça de Jesus. Leva as pessoas a serem escravas de regras e ritos, ao invés de crescerem na idoniedade como cristãos capazes de aplicar princípios as diversas realidades da vida. É uma boa opção para aqueles que não desejam crescer através da reflexão e do bom senso, haja visto que no legalismo alguém já pensou e definiu por todo mundo.

3. O Sincretismo Religioso - Um tempo atrás um irmão me mostrou a embalagem de um sabonete de arruda recebido num culto evangélico. Ora, o que levaria um líder evangélico a aconselhar seus irmãos a banharem-se com arruda para espantar "mal olhado"? Sabemos que isto não provém da fé cristã. Nada mais é do que um elemento da religião não cristã absorvido por uma corrente que se proclama genuinamente evangélica. Esta mistura religiosa é perniciosa à verdadeira espiritualidade.

4. O Relativismo Moral - O pecado não pode ser definido por minha opinião pessoal ou pela conveniência das situações que me cercam. Iniquidade é tudo aquilo que o próprio Deus definiu como contrário à sua vontade e impuro aos seus olhos. A relativização do certo e do errado tem custado a saúde espiritual de muitas pessoas e igrejas locais.


Em Marcos 7 Jesus têm um confronto direto com os fariseus em detrimento do entendimento da verdadeira espiritualidade. O ponto de partida é uma controvérsia sobre o que contamina o homem. O que para nós é apenas um problema de natureza sanitária, para os fariseus era um problema de ordem espiritual: O comer com as mãos impuras! Diante deste embate, Jesus denuncia como a tradição dos líderes religiosos levava as pessoas a uma falsa compreensão da relação espiritual delas com Deus e com o mundo.


Assim, quero destacar três princípios que Jesus ensina nesta passagem, que podem equilibrar nossa comunhão com Deus, preservando-nos dos perigos à nossa espiritualidade:


1. Precisamos nos manter cativos à Palavra de Deus (v. 6-8) - A tradição dos líderes religiosos, que se propunha a ser uma interpretação da Lei, havia se sobreposto sutilmente como uma oposição à própria Lei. Nosso compromisso maior precisar ser com a Escritura. Nos submetemos aos líderes até que estes sejam fiéis à Palavra. Não podemos trocá-la por tradições, conjunto de leis, ou misturá-la com outras práticas religiosas. Não podemos relativizá-la por nenhum tipo de conveniência pessoal.

2. Precisamos mensurar nossa espiritualidade a partir da saúde de nossos relacionamentos (v. 11-13) - Os fariseus ofereciam uma oferta a Deus para se sentirem desobrigados em honrar seus pais. Pensavam que era possível manter a saúde da relação vertical sem cuidarem da horizontalidade de seus relacionamentos. Nosso Senhor resumiu a Lei e os Profetas em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O diagnóstico e a cura de nossa espiritualidade está no cuidado e na saúde de nossos relacionamentos.

3. Precisamos cuidar do mundo interior para termos verdadeira espiritualidade (v. 18-23) - Para os fariseus, a saúde espiritual dependia do trato com elementos externos. Nosso Senhor, porém, se opoz a tal compreensão demonstrando que nossa impureza encontra-se no mundo interior. É de lá que brotam as imundícies. Deus deseja tratar-nos de dentro para fora. É necessária a coragem de expor esta realidade interna e negra que nos assola se desejamos saúde espiritual. Não devemos fugir, mas nos apresentar como somos para sermos purificados.


Tradicionalismo, legalismo, sincretismo religioso e relativismo moral podem destruir nossa comunhão com Deus e nos afastar da verdadeira espiritualidade. O caminho da real busca deve nos levar de volta para a Palavra de Deus, em sua singularidade e simplicidade. É o caminho que propõe tratar-nos os vários níveis de relacionamento para que nossas orações e busca não sejam interrompidas. É o caminho de olharmos para dentro, onde está o verdadeiro mal e a fonte de nossa impureza. Somente este caminho irá nos conduzir à verdadeira espiritualidade.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

“Parábola da Nossa Vida”


          Sermão baseado no texto de Lucas 15:11-24, ministrado na Igreja Luz no dia 31 de agosto de 2008 pelo seminarista Ericson Martins (contato@projetoperu.com).
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INTRODUÇÃO :
          Freud analisou o ser humano e concluiu que “o melhor que pôde encontrar do ser homem é lixo.” À medida que conhecemos a natureza humana e à medida que vamos tomando conhecimento das crueldades que são capazes, descobrimos que de fato, Freud tinha alguma razão. 
          Esta consciência verdadeira a cerca da nossa natureza é perturbadora. A maioria se esforça o tempo todo para ser aceito por si mesmo, queremos convencer os outros o tempo todo o melhor que há em nós mesmos porque não admitimos esta realidade; fazemos isto usando a melhor roupa, usando as melhores palavras para expressar melhor dos nossos sentimentos, ... só que mais cedo ou mais tarde nos defrontaremos com nossa real natureza.
          As maiores feridas e decepções que podemos sofrer vêm das pessoas que mais amamos. Eles assumem proporções, por esta razão, esmagadores em nossa alma. Por isto é tão comum vermos pais que desistiram dos seus filhos. Desistiram de corrigi-los porque não suportam mais “falar, falar e falar e não serem ouvidos seus conselhos”, desistiram de educá-los, discipliná-los, abandonando-os aos seus próprios destinos, segundo o curso que eles mesmo querem sem considerar a responsabilidade paterna. 

A Organização Pan-Americana de Saúde fez uma pesquisa recentemente em escolas de 17 capitais brasileiras e concluiu que 42,5% dos jovens goianos entre 12 e 16 anos já experimentaram o cigarro no mínimo uma vez (Organização Pan-Americana de Saúde, http://www.opas.org.br, divulgado em O Polular, 28/08/2008). 

          Por outro lado vemos comumente filhos que desistiram dos pais, fugindo de casa, se trancando no quarto para não ouvi-los mais, como se a palavra deles não fizesse mais sentido e então, uma grande massa de jovens e adolescentes, mesmo completamente imaturos para assumem independência emocional e financeira dos pais, anseiam levianamente pelo dia da separação, da chamada liberdade para nunca mais prestar contas a eles.
          A Parábola do Filho Pródigo é a Parábola da Nossa Vida porque não podemos encontrar o Senhor que é capaz de restaurar nossa alma para a vida, mas somos vulneráveis ao Seu encontro com nossa realidade. Ele veio e vem ao nosso encontro e ao encontrar-nos se alegra grandemente. 
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NARRAÇÃO :
           Reuniram-se, certa vez, um grupo de pessoas consideradas para o status quo religioso nos dias de Jesus, pessoas desprezíveis e ameaçadoras do ponto de vista moral. Entretanto, Jesus os “recebia e comia” com eles enquanto ensinava as verdades concernentes ao Reino de Deus. Criticado pelos mestres da Lei, propôs três parábolas : A Ovelha Perdida, A Drácma Perdida e o Filho Pródigo. Todas trazem em si a síntese do valor que tem a singularidade do homem perdido para Deus, razão que justifica a busca persistente do “pastor” e da “mulher” que perdera a drácma, e especialmente do “pai” que vai ao encontro do filho quando o vê de longe a caminho de casa. As três parábolas apresentam também uma característica comum : a alegria do reencontro que resulta em grandes festas.
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TESE : 
          Por causa da nossa natureza e conseqüentemente nossas intransigências moral e religiosa, fazemos escolhas que não se conformam com o verdadeiro propósito de Deus para nós, no entanto, o plano da redenção é eficaz para nos resgatar da apatia quanto ao nosso estado pecaminoso e nos restaurar para sempre por meio de Jesus Cristo que vem ao nosso encontro, sara-nos e re-estabelece a comunhão com o Pai. 
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1. Suas decisões determinam suas experiências (vs. 11-16);
          No caso do “Filho Pródigo”, muitas seriam as abordagens se passasse um psicólogo, um existencialista, um médico, um político, um amigo, etc. e visse aquele rapaz trabalhando em extrema humilhação entre os porcos (para a cultura judaica era o pior que poderia acontecer). Mas poucos, certamente diriam que aquele jovem estava vivendo naquele estado por causa das decisões que tomara em sua vida.
          Estava em casa, na comunhão do Pai e com todas as suas necessidades supridas, mas decidiu deixar tudo para traz em busca de uma vida independente e “livre” dos cuidados do pai. O resultado foi assustador : perdeu a herança, os amigos, começou a passar necessidade e por fim, teve de encarar um contexto de vida vergonhoso “diante dos céus e diante do pai”.
          A realidade do pecado e suas conseqüências não são omitidas no texto, nem para a realidade do ser humano. Esta realidade necessita ser admitida e confessada mediante arrependimento diante de Deus, do contrário, a humilhação imposta pelo pecado e a distância de Deus só trará conseqüências ainda maiores para a eternidade.
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2. Melhor é viver aonde é valorizado do que onde é explorado (vs. 17-19);
          O pecado humilha e explora a consciência do homem com a culpa. A impressão que se tem é que em qualquer lugar ou condição que possa viver e estar, o homem é sempre infeliz, incompleto, frustrado e confuso quanto a razão de ser e viver. A maioria, fora da comunhão com Deus e sem orientação bíblica, perde relacionamentos preciosos por decisões e escolhas totalmente equivocadas que poderiam ser evitadas e sofrem a dura sensação de estar só. A senso de distância de Deus e a solidão que permeia a história de muitos só pode ser solucionado se, convencido pelo Espírito Santo, tomar uma segunda decisão : buscar a presença do Pai, voltar atrás (arrependimento).
          Na presença de Deus, ainda que todos desistam de nós, Ele não desiste. Somos valorizados não porque há um motivo em nós para isto, mas porque Deus em Sua rica misericórdia escolheu nos amar e nos redimir pela morte eficiente de Jesus Cristo. Esta ação de Deus a nosso favor transforma nossa realidade segundo o propósito maravilhoso que Ele tem para cada um de nós, dando-nos uma nova oportunidade de vida.
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3. O caminho de volta é sempre melhor que suportar a culpa (vs. 20-24);
          Aquele jovem poderia relutar e persistir dizendo para si : “Não posso voltar, será humilhante demais para mim depois de tudo que já fiz !”, mas não poderia suportar mais a consciência da sua culpa mediante as “besteiras” que fez. Embora envolvido em profundas conseqüências, não havia perdido concepção de quem era o pai, de quem é Deus. E reconhecendo a força da Sua paternidade, se levantou e voltou pelo mesmo caminho. Cada passo de volta aumentava ainda mais a ansiedade de reencontrar o pai. De longe, diz o texto, o pai o viu, correu ao seu encontro e o abraçou intimamente. O perdoou e o recebeu na condição de filho. Ali, na presença do pai novamente, pôde ser restaurado e participar da alegria de muitas pessoas porque havia sido encontrado pelo pai.
          Voltar é arrepender. Voltar é reconhecer que não há salvação resultante do nosso esforço empreendido na auto-justificação. Voltar é negar quem somos (nossos projetos existenciais) para admitir aquele que é de Deus por meio de Jesus. Há sempre uma esperança para aquele que volta-se para Deus arrependido. 
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CONCLUSÃO :
          A Parábola do Filho Pródigo nos apresenta um pai que tem dois filhos, na realidade há dois pólos : fariseus e escribas - a ala da religiosidade unilateral, da Lei sem amor, da falsa moralidade, da performance, da devoção expressa pelo comportamento exterior, não necessariamente correspondendo a uma realidade interior como do outro lado da experiência e da sociedade humana - os publicanos e pecadores. Aqueles que por não serem semelhantes ao restante já estão condenados moralmente pela força daqueles que se declaram merecedores de Deus. O filho mais velho se sente maduro por ter vivido mais tempo em casa e por trabalhar mais, por isto odeia a idéia de o filho mais novo ser agraciado pelo Pai depois de tudo o que fez, porque ele pensa que sua suposta fidelidade deve ser retribuída pela penalidade do outro. Ele odeia tanto quem não é fiel ao Pai como ele é que nem consegue viver o que tem. Ele não reconhece com gratidão ser quem é, e neste indivíduo que não é grato por ser filho ao se comparar com o mais novo o inveja, e é neste mesmo que a graça lhe faz mal. Mas o filho mais novo, embora tivesse cometido muitos pecados e se afastado do pai, descobre que realmente não há lugar melhor para estar em sua presença e, arrependido, assume uma nova decisão, recorrer a ele confiante em seu perdão e aceitação.
          Esta Parábola pode ser chamada de parábola da nossa vida porque reflete, de fato, nossa história. Ou assumimos quem somos e quem Deus é para nós fundamentados nas verdades bíblias, ou fingiremos ser quem não somos para garantir o status espiritual e ritual que não comunica graça de Deus. Aqueles que reconhecem sua pecaminosidade e se arrependem desfrutam da comunhão com Deus porque Deus providenciou o meio de resgatá-los para a vida eterna em Cristo. A estes a graça de Deus é alegria para viver. A estes lhe é concedido a oportunidade de reorganização dos valores, dos relacionamentos, dos sentimentos, ... de forma que nem mesmo a pior tribulação ou acusação deste mundo poderia arrebatá-los das mãos do Senhor, permanecem firmes para todo sempre.
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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Nossa Identidade - Simonton: O Perfil de um Pioneiro


(Texto do Historiador da IPB Rev. Alderi Souza de Matos - Ashbel Green Simonton foi o missionário pioneiro e fundador do presbiterianismo brasileiro)


Um personagem só pode ser compreendido se levarmos em conta sua formação, as influências que recebeu, os fatores que contribuíram para moldar sua personalidade e seu caráter.


O primeiro dado importante acerca do rev. Simonton é sua nacionalidade. Quando ele nasceu (1833) em West Hanover, na Pensilvânia, os Estados Unidos eram ainda uma nação jovem, tendo conquistado a independência há pouco mais de meio século. O novo país se orgulhava de suas instituições democráticas, de seu apego às leis, de seu sistema educacional, de seu progresso econômico e social. Ao mesmo tempo, havia tensões crescentes: as diferenças entre o Norte o Sul, o problema da escravidão, o aumento da imigração católica. Esses fatores marcaram profundamente o jovem Simonton à medida que se preparava para a vida adulta, como se pode perceber em seu diário. Outra influência fundamental foi a fé presbiteriana que herdou de seus pais, descendentes dos célebres escoceses-irlandeses. Sua mãe era filha de um pastor e seu pai um honrado médico e homem público, tendo representando seu estado no Congresso americano, em Washington. O casal deu ao filho caçula Ashbel e a seus muitos irmãos uma educação aprimorada, marcada por sólidos valores éticos e religiosos. Um terceiro fator que marcou a trajetória de Simonton foi a tradição puritana, tão importante na história dos Estados Unidos. Um legado dessa tradição foi o grande fervor espiritual, a intensa busca de comunhão com Deus que contribuiu para os freqüentes avivamentos da época. Em um deles, ocorrido em 1855, o jovem presbiteriano se converteu e sentiu despertar em seu íntimo a vocação ministerial, ingressando no Seminário de Princeton. Outro elemento significativo de sua formação resultou de uma mescla dos anteriores. Desde o início, os americanos se sentiram um povo especialmente aquinhoado por Deus, escolhido para levar a outras nações os mesmos benefícios que havia recebido. Essa convicção, mais tarde denominada “destino manifesto”, se associou aos avivamentos para produzir um extraordinário movimento missionário de âmbito mundial que se estendeu por todo o século 19 e o início do século 20. Atraído por essa visão durante os estudos teológicos, Simonton desistiu de ser um pastor em seu próprio país e resolveu dedicar-se à causa das missões estrangeiras. Assim sendo, o jovem pregador, que chegou ao Brasil no dia 12 de agosto de 1859, estava bastante preparado e motivado para seu difícil trabalho. Tinha excelente formação intelectual, um caráter íntegro e grande entusiasmo pela tarefa que entendia ter recebido de Deus. Vencidos os desafios iniciais de aprender o idioma e se adaptar a uma cultura tão diferente da sua, ele se lançou com afinco à sua missão. Metódico, operoso e perseverante, Simonton lançou em poucos anos as bases do presbiterianismo brasileiro, criando várias estruturas pioneiras: a primeira igreja (1862), o primeiro jornal (1864), o primeiro presbitério (1865) e o primeiro seminário (1867). Apesar da grande dor que sentiu ao perder a jovem esposa, reuniu forças para dar continuidade às suas atividades evangelísticas e pastorais, encerrando sua carreira prematuramente aos 34 anos de idade (1867), na cidade de São Paulo, vitimado pela febre amarela. Não sabemos o que mais Simonton teria realizado se tivesse tido uma vida mais longa. É razoável supor que, sob sua liderança prudente e equilibrada, a caminhada da nova igreja teria sido mais tranqüila e talvez a divisão de 1903 não viesse a ocorrer. Mas isso é entrar no terreno das conjecturas. O importante, ao comemorarmos o 149º aniversário da chegada desse missionário fundador ao Rio de Janeiro, é lembrar com gratidão seu idealismo e desprendimento, seu amor pelo povo brasileiro, sua profunda dedicação a Cristo e ao projeto de vida que abraçou. A Igreja Presbiteriana do Brasil terá muito a se beneficiar se os seus líderes, ministros e membros forem imbuídos desse mesmo espírito, o que irá resultar em maior coerência e fidelidade no cumprimento de sua missão na sociedade brasileira.