Há um sentimento coletivo de perplexidade e medo na sociedade diante da quantidade e tamanho das catástrofes naturais que assolam diversos países e milhares de pessoas num curto período mundo a fora. Cada número de mortos, feridos e desabrigados revela o drama de gente com nome, história e relacionamentos. Tudo perdido ou afetado por forças que não estão no controle de governos e muito menos de indivíduos.
Qual a atitude que o verdadeiro cristão deve desenvolver diante de tudo isto? Quais as expectativas e posições que deve nutrir? Quero sugerir três linhas gerais de percepção à luz das Escrituras que devem nortear nossas conclusões e atitudes diante de eventos tão terríveis:
Ponto 1 - Toda relação com a sociedade e com as pessoas deve ser marcada pelo amor e compaixão (Salmo 146) – Antes de indagarmos o "porquê" de tais acontecimentos, devemos nos solidarizar com os que sofrem e promover por todos os meios possíveis modos de socorro e exercício da misericórdia. Nosso ponto de partida deve ser oração com ação. Podemos fazer isto de vários modos, inclusive por meio das centenas de organizações cristãs que estão mobilizadas e ativas nos países assolados por grandes catástrofes.
Toda forma de juízo e preconceito deve ser extirpado: Tenho visto pessoas afirmarem que a tragédia haitiana é fruto da prática do "voodoo" naquele país, mas não usam o mesmo critério de avaliação para o Chile, ou a Europa com seu caos aéreo, ou a China e assim por diante. Alguns nem consideram que na tragédia ressente no Rio de Janeiro, mais de 10 irmãos em Cristo foram soterrados dentro de uma pequena Igreja no morro do Bumba.
Portanto, nosso ponto de partida diante da tragédia deve ser a extensão de nosso amor em Cristo àqueles que padecem, sabendo que com o tamanho da vara que medirmos os outros, também seremos medidos. Oração e ação humanitária é a resposta prática ao sofrimento de milhares de pessoas, que como nós, foram criados à imagem e semelhança de Deus e que podem receber o alcance da graça divina através dos verdadeiros seguidores de Jesus.
Ponto 2 – Por reconhecer a responsabilidade humana dada por Deus no cuidado com a criação, a fé cristã obriga a nossa consciência a uma atitude profética
(Gênesis 1.28-31) – A destruição do meio ambiente e de seus recursos é um atentado contra Deus e contra o próprio homem. Portanto o discípulo de Cristo, movido por sua convicção e fé de ser um defensor da criação e um denunciante dos abusos humanos quanto àquilo que Deus confiou aos seus cuidados.
Não obstante, a autoridade necessária para em nome de Deus denunciar o abuso da ação humana quanto à natureza nascerá em primeiro plano do nosso próprio estilo de vida comprometido com o desenvolvimento sustentável. A falta de um cristianismo mais profundo e com respostas contemporâneas tem "desobrigado" milhares de cristãos de uma consciência bíblico-ecológica.
É verdade que muitas tragédias naturais nada têm haver com a ação humana, porém podemos atestar, pela própria experiência, que a maioria delas foram agravadas e causadas pela ação dos seres humanos no planeta. Cabe ao cristão ser um agente de proteção e um profeta em nome de Deus contra tal pecado.
Ponto 3 – O desequilíbrio da natureza mostra as conseqüências do pecado sobre toda criação, ao passo que nos lembra o projeto redentor de Deus para o mundo - O texto de Romanos 8.19-22 afirma que a natureza está debaixo do cativeiro da corrupção e por isso geme. Na queda Deus havia declarado a Adão que "maldita é a terra" por causa do pecado (Gênesis 3.17). A criação reage às constantes agressões do homem, porém, sofre com as conseqüências da presença do pecado que gera deformidade em tudo que Deus criou em nosso planeta.
Esta mesma natureza que geme por sua corrupção vive a ardente expectativa da manifestação dos filhos de Deus. Isto nos revela a maravilhosa verdade que nos consola ao sabermos que a natureza faz parte do Seu projeto redentor. Ele fará novo céu e nova terra e renovará a vida, liberta do presente cativeiro do pecado. Então, não haverá mais pranto, morte ou dor, pois as coisas antigas haverão passado (Apocalipse 21.1-5).
Portanto, ao responder às tragédias com compaixão aos que sofrem e com denúncia e exemplo para com os agentes humanos causadores, estamos anunciando que o Reino de Deus já está presente mediante o evangelho de Jesus. Porém, oferecemos a esperança consoladora da redenção de Deus sobre a sua criação. Ao conformarmos nossas atitudes e pensamentos aos valores da cruz descobriremos que os cristãos possuem um papel muito mais ativo a ser cumprido. Isto vai muito além de manter o olhar à distância, fruto de um juízo mórbido que um dia pode se voltar contra nós mesmos. Basta que a tragédia deixe de ser "lá" para ser "aqui".
Jean Chagas